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Mostrando postagens de maio, 2018

Crepúsculo Matutino

            Em dezembro eu e a minha família estávamos na estrada quando um caminhão bateu fortemente em nosso carro. Foi tudo muito rápido. Um clarão, um estampido e logo tudo se apagou. Acordei um mês depois e o choque de realidade me fez desejar voltar ao coma. Entrei em crise. Mas eis uma grande verdade: ninguém se importa.             Estou aqui há cerca de dois meses. Internado nesta adorável clínica, em um pequeno quarto cujas paredes são decoradas por mofo, com uma pequena janela na lateral pela qual sempre gosto de assistir ao nascer do sol e conversar com a lua, além de uma cama desprovida de lençóis e travesseiros a fim de evitar quaisquer eventualidades ou uma fatalidade. O que acho engraçado, pois acredito que não haverá fatalidade maior que esta em que se encontro. Insanos. Há dois meses perdi não só a minha família, mas a mim mesmo. Mas, quem se importaria?! Na alternância entre moment...

Relatos de uma alma sangrenta

Hoje eu estava na fila do supermercado, como em tantos outros dias da minha vida, quando percebi que conhecia "de vista" a mulher que ocupava o lugar à minha frente na fila.  Ela me viu atrás de si e perguntou como estava você, meu guerreiro... Ela perguntou sobre como estava você e se desculpou umas três vezes sem jeito por ter tocado em minha ferida ainda aberta... Disse-a que você já não estava fisicamente por aqui há alguns meses e isso doeu tanto. Doeu como eu não imaginei que doeria. Só quando tais palavras foram saindo da minha boca e, lentamente  fui tendo a percepção da realidade contida nelas, senti o peso da tua ausência desabar sobre mim. E isso doeu. Desde que você partiu eu tenho tentado mantê-lo por perto, sabe. Sempre falando de você por aí como se ainda estivesse, de fato, aqui. Como se ao chegar em casa eu fosse receber um daqueles sorrisos que sempre fora sincero, apesar de todos os pesares e que se esforçava para se manter assim. Como se eu fosse ouvir...

Fragmentado

E eu estou tão cansado novamente... No sentido mais amplo da palavra e em sua maior extensão. Um cansaço que se alastra tão feroz e rapidamente e que vai aos poucos corroendo todos os cantos até chegar ao centro do meu ser e fragilizando todas as partículas já desgastadas pela rotina fatídica além de abalar as estruturas que outrora me sustentavam firmemente, mas que agora... Estou tão cansado novamente que o sentido outrora criado para possibilitar a suportabilidade dessa existência tão caótica por si mesma tem se perdido, esvaído junto com o vento. O mesmo vento do furacão que abalou minhas estruturas já abaladas e me levou para longe de mim e do que pensava que eu pudesse ser. Um vendaval tão intenso que já não sei exatamente onde estou. Se é que posso dizer que ainda estou. Estou tão cansado novamente... Só que bem mais cansado que todas as outras vezes, pois o cansaço se fundiu a minha própria essência e tem me feito acreditar que não existe mais nada além dele e que se acostu...