Relatos de uma alma sangrenta

Hoje eu estava na fila do supermercado, como em tantos outros dias da minha vida, quando percebi que conhecia "de vista" a mulher que ocupava o lugar à minha frente na fila.  Ela me viu atrás de si e perguntou como estava você, meu guerreiro...
Ela perguntou sobre como estava você e se desculpou umas três vezes sem jeito por ter tocado em minha ferida ainda aberta...
Disse-a que você já não estava fisicamente por aqui há alguns meses e isso doeu tanto. Doeu como eu não imaginei que doeria. Só quando tais palavras foram saindo da minha boca e, lentamente  fui tendo a percepção da realidade contida nelas, senti o peso da tua ausência desabar sobre mim. E isso doeu.
Desde que você partiu eu tenho tentado mantê-lo por perto, sabe. Sempre falando de você por aí como se ainda estivesse, de fato, aqui. Como se ao chegar em casa eu fosse receber um daqueles sorrisos que sempre fora sincero, apesar de todos os pesares e que se esforçava para se manter assim. Como se eu fosse ouvir sua voz anunciando com felicidade a minha chegada, como de costume. Como se eu fosse rir das tuas piadas, ou ao menos te encontrar...
Mas não.
Eu chego em casa e o vazio e o silêncio que ficaram depois que você se foi são tão aterrorizantes que eu não consigo não sentir sua falta por um segundo sequer. Eu, que sempre apreciei o silêncio, hoje sou aterrorizado por ele ao ponto de minha existência caótica se agitar como se estivesse numa boate eletrônica, me levando a loucura enquanto a ansiedade toma conta de mim.
Hoje me perguntaram como você estava e eu tive que segurar minha enchente para que ela não me destruísse. Não em público. Não em uma fila de supermercado.
E, por mais que o meu dia tenha sido repleto de obstáculos, essa foi a coisa mais difícil que eu tive que fazer.
Agora essa enchente represada segue destruindo tudo aqui dentro. A água represada por trás dos meus olhos vão correndo com força e seu impacto destruindo os resquícios de estabilidade que tanto tentei manter intactos.
Porque hoje me perguntaram como estava você e foi como ser baleado, por isso estou sangrando sem parar.

Poeta Sonhador das Estrelas (ou os resquícios que sobraram dele...)

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