Carta a Ela
Amor que não é
mais meu (se é que já foi algum dia) escrevo-te para dizer que essa é a última
vez que te eternizo com minhas cartas que aos poucos já não são mais dedicadas
a você.
Essa é a minha
última carta, mas não como aquela última em que ao invés de me despedir, acabei
por me despir e com a alma nua exposta em mais uma folha em branco falei dos
teus olhos, da beleza que envolve o teu ser, te comparei à perfeição da lua e
assim vacilei.
Não.
Dessa vez será para valer e não como naquela manhã
de domingo em que acordei caótico e jurei (não pela primeira vez) não mais te
escrever, mas então você me apareceu sorrindo e em questão de segundos arruinou
o juramento que acabara de fazer. Ou ainda como na semana passada em que ao ter
te encontrado num sonho, acordei bobo, risonho e te eternizei pela terceira vez
mesmo depois de ter jurado aos céus não mais o fazer.
Essa é a última
vez que te eternizo porque cada vez que falo de você em um escrito, acabo por
abrir uma ferida que tenta cicatrizar. Ou melhor, é como se disparasse um tiro em meu próprio peito. Rabiscando-te e morrendo sem jeito nessa espécie de suicídio.
O meu psicológico já não aguenta, mas tudo bem, o teu (des)amor me rendeu bons
poemas. Tua presença está repleta de ausência e de instabilidade basto eu. É
que eu preciso deixar de abrir essa ferida se quiser que ela cicatrize.
Essa é a minha
última carta, mas não que o meu amor tenha morrido (e também não que não tenha
tentado matá-lo), só que você é uma droga em que aos poucos me viciei e me
tornei refém e desde então cada carta tem sido uma espécie de recaída. Uma
recaída de você e que agora terá que cessar.
Eu sei que a
abstinência vai doer, e muito, mas talvez ela seja “menos pior” do que o efeito
devastador que causas sobre mim. Não tenho certeza se a abstinência e
recuperação me trará felicidade, mas certamente trará alguma liberdade. E como
você sempre citava aquele autor que você gosta ela é “o bem maior do mundo”,
não é mesmo?
Então é isso.
Estou te escrevendo apenas para dizer que não mais te escreverei.
Mesmo sabendo
que isso não é verdade.
Poeta Sonhador das Estrelas
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